Usucapião Rural como Instrumento de Regularização Fundiária e Justiça Social
- Mariella F. Maccari de Camargo
- 24 de abr.
- 3 min de leitura
Atualizado: 1 de mai.
🌱 Quando o título não vem, mas a luta continua
No coração do Brasil rural, há milhares de histórias que se repetem: pequenos produtores que ocupam a terra há anos, às vezes décadas, cultivando, morando e formando famílias — tudo isso sem um papel que comprove o que, na prática, é deles por direito.
Mas quando o Estado não chega, o tempo e o trabalho tomam o lugar da formalidade.⠀É aí que entra o usucapião rural: um instrumento jurídico poderoso, que não apenas legaliza a posse, mas também promove justiça social, estabilidade familiar e valorização da propriedade rural.
📚 O que é o usucapião rural?
O usucapião especial rural, previsto no art. 191 da Constituição Federal e no art. 1.239 do Código Civil, permite que quem não possui imóvel urbano ou rural possa adquirir até 50 hectares de terra, desde que:
Ocupou a terra de forma mansa, contínua e sem oposição por 5 anos
Tornou a terra produtiva por seu trabalho ou de sua família
Tenha nela sua moradia habitual
Essa modalidade existe para atender à função social da terra e oferecer segurança a quem produz.
🔎 Para quem o usucapião é realmente útil?
Ele é especialmente importante para:
Pequenos agricultores que herdaram ou compraram informalmente uma terra
Famílias que vivem em comunidades tradicionais
Ocupantes de lotes rurais esquecidos pelo poder público
Pessoas que compraram de “boca” ou por recibo simples
Sem usucapião, essas pessoas vivem na incerteza, sem acesso a crédito, sem valor patrimonial reconhecido, e sempre à mercê de disputas.
⚖️ Usucapião e justiça social: mais que um documento
O usucapião não é apenas uma ação judicial. Ele é um símbolo de dignidade e inclusão.
Quando reconhece um direito real sobre a terra, ele:
Garante segurança jurídica à moradia e produção
Permite acesso a financiamento rural e políticas públicas
Valoriza a terra e as benfeitorias
Reduz conflitos agrários e invasões
Integra famílias ao sistema legal e fiscal
É por isso que o usucapião rural é ferramenta de cidadania no campo.
🧠 Insight jurídico
“O usucapião rural é mais que uma solução jurídica — é reconhecimento do valor da permanência, da produção e da resistência do pequeno agricultor.”
🛠️ Como é feito o processo de usucapião?
Hoje, o processo pode ser judicial ou extrajudicial (em cartório), desde que todos os requisitos estejam preenchidos e não haja disputa:
Judicial
Quando há necessidade de reconhecimento formal por sentença
Pode envolver citação de confrontantes e parecer do Ministério Público
Extrajudicial
Realizado diretamente em cartório
Requer documentação técnica (planta e memorial descritivo)
Requer aprovação da prefeitura e anuência dos confrontantes
Mais rápido, porém só possível quando não há litígio
📋 Documentos essenciais
Declaração de posse com tempo e finalidade
Planta georreferenciada e memorial descritivo
Certidão negativa de propriedade em nome do requerente
Cadastro Ambiental Rural (CAR)
Declarações de vizinhos ou testemunhas
Fotos aéreas, recibos, contas de energia ou água, entre outros
✅ Checklist para o produtor que pretende usucapir
Verificação | Situação |
Ocupa a terra há mais de 5 anos? | 🔲 |
Vive e produz na área? | 🔲 |
Não possui outro imóvel? | 🔲 |
A posse é pacífica, contínua e sem oposição? | 🔲 |
Já procurou advogado especializado? | 🔲 |
📢 Conclusão
O usucapião rural é uma das formas mais efetivas de promover regularização fundiária, valorização da produção e inclusão social no campo.
Se você, ou alguém que conhece, vive essa realidade — sem escritura, mas com raízes firmes no solo — saiba que há um caminho legal.
✍️ Sobre a autora
Dra. Mariella F. Maccari de Camargo é Sócia-Proprietária do Escritório de Advocacia Maccari de Camargo, especializado em Direito Ambiental, Agrário e do Agronegócio. É também Especialista em Direito do Agronegócio pela Fundação Escola Superior do Ministério Público de Mato Grosso - FESMP/MT (2021) e Membra da Comissão do Agronegócio, Comissão do Meio Ambiente e Comissão de Direito Fundiário da OAB/MT. Atua há mais de 8 anos defendendo o Produtor Rural, garantindo direitos e segurança jurídica para todo o ecossistema do agronegócio.
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