top of page

Usucapião Rural por Posse de Terra Pública: Limites e Polêmicas

  • Foto do escritor: Mariella F. Maccari de Camargo
    Mariella F. Maccari de Camargo
  • 24 de abr.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 1 de mai.

🌱 Quando o tempo no campo não basta

Imagine um produtor rural que, por décadas, cultivou uma terra, criou seus filhos ali e nunca foi incomodado. Sem escritura, mas com esforço diário. Com o passar do tempo, surge a pergunta:“Será que agora essa terra é minha de direito?”

A resposta parece lógica. Afinal, o tempo não resolve tudo?

No Brasil, o instrumento jurídico que muitos acreditam ser a solução nesses casos chama-se usucapião rural. Porém, há um limite que muda completamente essa história — e que pode transformar anos de trabalho em risco de perda total da posse.

Antes de irmos direto ao ponto, é essencial entender o que é, de fato, o usucapião rural — e por que ele não funciona quando a terra é pública.


📚 O que é Usucapião Rural?

O usucapião especial rural, previsto na Constituição Federal e no Código Civil, é um direito garantido a quem exerce a posse contínua de área rural por 5 anos, tornando-a produtiva por meio do trabalho próprio ou da família.

Mas esse direito tem critérios:

  • A área deve ter até 50 hectares;

  • A posse deve ser pacífica e sem contestação;

  • O ocupante não pode ser proprietário de outro imóvel;

  • E a terra não pode ser pública.

É aqui que mora o problema para muitos produtores que ocupam áreas sem registro formal.


🚧 O que muitos não sabem sobre o usucapião rural

Produtores rurais em todo o Brasil, especialmente nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste, ocupam terras com a expectativa de que, com o tempo, o direito de propriedade será adquirido.

Contudo, o que muitos desconhecem é que o tipo de posse importa — e muito.Se a terra for da União, do estado, do município ou de autarquias como o Incra, nenhum tempo de ocupação será suficiente para garantir a propriedade por usucapião.


🏛️ Terras públicas são exceção

A Constituição e a jurisprudência brasileira são claras:Bens públicos são inalienáveis, imprescritíveis e não podem ser usucapidos.

Isso quer dizer que:

  • Não importa há quanto tempo você ocupa a terra;

  • Não importa se você produziu, melhorou, construiu;

  • Se for terra pública, não há direito à propriedade por usucapião rural.

Essa é uma decisão consolidada pelos tribunais, como o STJ, que já afirmou que “a posse prolongada de terra pública não gera direito à propriedade, mesmo que de boa-fé.”


🔥 Conflitos fundiários e ocupações históricas

Em áreas como a Amazônia Legal, esse tema se torna ainda mais delicado.Milhares de produtores vivem em terras ocupadas há décadas, muitas vezes herdadas, mas que legalmente ainda pertencem ao Estado.

É nessas regiões que os conflitos fundiários se intensificam:

  • Embargos ambientais

  • Ações de reintegração de posse

  • Impossibilidade de acesso a crédito rural

  • Insegurança para investimentos

A expectativa de usucapião, nesses casos, só gera frustração.


✅ O que fazer quando a terra é pública?

Se o usucapião rural não se aplica a terras públicas, quais são as alternativas?

📝 1. Regularização Fundiária

A principal alternativa é buscar programas de regularização fundiária rural, como:

  • Programa Terra Legal

  • Titula Brasil

  • Programas estaduais de titulação

Eles são voltados para quem ocupa terras públicas de forma produtiva e contínua, e podem resultar na concessão de título de propriedade — desde que cumpridos os critérios legais.

📃 2. Concessão de Uso

O poder público pode conceder o uso formal da terra por prazo determinado, garantindo segurança jurídica sem transferência de propriedade.

🧑‍💼 3. Consultoria com advogado especializado

É fundamental contar com um advogado especializado em direito agrário e regularização fundiária para analisar documentos, situação da posse e indicar o melhor caminho legal.


🔍 Como saber se a terra é pública?

Essa é uma dúvida comum entre produtores. Para saber, é necessário:

  • Solicitar a matrícula da terra no cartório de registro de imóveis

  • Consultar o Sistema de Gestão Fundiária (Sigef)

  • Verificar o Cadastro Ambiental Rural (CAR)

  • Checar com o Incra ou a Secretaria de Patrimônio da União

Se a terra não tem matrícula registrada ou está em nome de ente público, a chance de ser terra pública é alta.


💡 Insight jurídico

“O usucapião rural é uma ferramenta poderosa, mas não vale para tudo. Terras públicas exigem outro caminho.”

✅ Checklist para o produtor rural

Situação

Está regular?

A terra tem matrícula registrada?

🔲

A matrícula está em nome de pessoa física?

🔲

O imóvel está em nome de ente público?

🔲

Já buscou programas de regularização fundiária?

🔲

Já consultou um advogado agrarista?

🔲

📢 Conclusão

Não basta estar sobre a terra. É preciso estar certo da natureza jurídica dela.Muitos produtores vivem hoje em situação de risco simplesmente por desconhecerem que estão sobre áreas públicas. E nesses casos, o usucapião rural não é o caminho.

A boa notícia é que há alternativas legais. Regularizar sua posse pode garantir segurança, acesso a crédito, valorização do imóvel e paz jurídica.

🔎 Se você está nessa situação, fale com um advogado especializado em direito agrário.


✍️ Sobre a autora

Dra. Mariella F. Maccari de Camargo é Sócia-Proprietária do Escritório de Advocacia Maccari de Camargo, especializado em Direito Ambiental, Agrário e do Agronegócio. É também Especialista em Direito do Agronegócio pela Fundação Escola Superior do Ministério Público de Mato Grosso - FESMP/MT (2021) e Membra da Comissão do Agronegócio, Comissão do Meio Ambiente e Comissão de Direito Fundiário da OAB/MT. Atua há mais de 8 anos defendo o Produtor Rural, garantindo direitos e segurança jurídica para todo o ecossistema do agronegócio.

Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação

© 2025 por Maccari de Camargo. Criado por Studio Save.

  • Instagram
  • LinkedIn Social Icon
bottom of page